Veja também
Esta semana, o par USD/JPY atingiu uma alta de quase três meses, chegando a 153,20. A última vez que o iene esteve nessa faixa de preço foi no final de julho, quando o par estava em uma tendência de baixa, caindo a partir do nível de 161,70. Agora, no entanto, o USD/JPY mudou para uma tendência de alta: desde meados de setembro, o par tem subido de forma ativa e constante. Em apenas seis semanas, o USD/JPY ganhou mais de mil pontos, passando de 140,00 para a faixa atual de 152-153.
Dado o cenário fundamental atual, a retração corretiva parece uma oportunidade favorável para abrir posições de compra. No entanto, há uma ressalva importante: as eleições parlamentares no Japão, marcadas para 27 de outubro, trazem incertezas significativas e riscos políticos. Por exemplo, alguns analistas acreditam que o atual primeiro-ministro, Shigeru Ishiba, nomeado no mês passado, pode perder o cargo. Caso isso ocorra, toda a estrutura administrativa que ele estabeleceu pode ser desmantelada.
Discutiremos as implicações políticas dessas eleições mais adiante, mas, por enquanto, vamos focar nos fatores fundamentais "clássicos", que também não são favoráveis ao iene.
CPI de Tóquio e seu impacto no mercado
Hoje, o Japão divulgou um importante indicador de inflação: o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de Tóquio. Embora a reação dos investidores do USD/JPY tenha sido moderada, espera-se que esse dado ganhe relevância na próxima semana, após o término das eleições parlamentares, quando o foco se voltará para a reunião do Banco do Japão, marcada para 31 de outubro.
O CPI de Tóquio, indicador relevante das tendências de preços em todo o país, apresentou dados de outubro que foram divulgados hoje. O índice geral atingiu seu pico no verão (em agosto), a 2,8%, mas iniciou uma desaceleração significativa nos meses seguintes, caindo para 2,1% em setembro e 1,8% em outubro — a taxa de crescimento mais baixa desde abril deste ano.
O núcleo do CPI de Tóquio, que exclui alimentos frescos, registrou quatro meses consecutivos de alta de maio a agosto, mas reverteu acentuadamente, caindo para 2,0% em setembro e 1,8% em outubro.
Os dados divulgados hoje complementam o relatório da semana passada sobre a inflação nacional. No mês passado, o CPI nacional desacelerou para 2,5% (a menor taxa desde abril deste ano), enquanto o núcleo do CPI, acompanhado de perto pelo Banco do Japão, caiu para 2,4% após quatro meses de alta consecutiva, também registrando o menor nível desde abril.
O que esses relatórios de inflação indicam?
Em primeiro lugar, eles sugerem que o Banco do Japão pode não apressar a próxima rodada de aumentos na taxa de juros. O governador Kazuo Ueda já havia sinalizado essa possibilidade antes da divulgação dos dados de inflação, e agora parece mais provável que qualquer decisão de aumento seja adiada até, pelo menos, janeiro de 2025.
A política também pode influenciar nesse processo. O mercado acredita cada vez mais que os resultados das eleições parlamentares de domingo podem dificultar os esforços do Banco do Japão para normalizar a política monetária. A câmara baixa do parlamento japonês, que possui 465 assentos, era dominada pela coalizão governista (Partido Liberal Democrático e Partido Komeito) antes de ser dissolvida, com maioria absoluta (233 assentos). Entretanto, algumas pesquisas sugerem que essa maioria pode não se manter nas próximas eleições, abrindo a possibilidade de uma coalizão minoritária.
Essa instabilidade política, por si só, pode motivar o banco central a adiar qualquer movimento (além dos dados recentes de desaceleração da inflação). Além disso, muitos membros da oposição, que poderiam integrar uma nova coalizão, defendem políticas para impulsionar o aumento salarial, como medidas fiscais e monetárias expansionistas para promover maior crescimento dos salários. Segundo alguns estrategistas cambiais, se essas propostas forem incluídas nas novas políticas econômicas, o Banco do Japão poderá adiar o aumento das taxas até, pelo menos, a primavera do próximo ano.
Essas previsões estão alinhadas com as opiniões dos economistas entrevistados pela Reuters. A maioria deles acredita que o Banco do Japão não aumentará as taxas de juros novamente este ano e espera que essa questão seja reavaliada na primavera de 2025, provavelmente em março.
O que isso significa para o iene?
Isso sugere que o iene não possui atualmente força independente. Uma tendência de baixa sustentada no par USD/JPY só é viável com um enfraquecimento significativo do dólar americano. Enquanto isso, o índice do dólar americano permanece estável em torno da marca de 104, apoiado por comentários cautelosos dos representantes do Federal Reserve, que defendem um ritmo gradual de flexibilização da política monetária, e pela expectativa de importantes relatórios macroeconômicos a serem divulgados na próxima semana, incluindo o índice PCE básico, os dados de crescimento do PIB dos EUA para o terceiro trimestre e o relatório Nonfarm Payrolls de outubro.
Assim, é aconselhável aproveitar as correções no par USD/JPY para abrir posições compradas, mas isso deve ser feito após os resultados das eleições parlamentares no domingo. Na próxima semana, o par pode ganhar impulso adicional de alta se a coalizão governista não conseguir garantir uma maioria absoluta.
Do ponto de vista técnico, o par está posicionado no gráfico diário entre as linhas média e superior do indicador Bollinger Bands, além de estar acima de todas as linhas do indicador Ichimoku, que formou um sinal de alta chamado "Kumo Twist". O primeiro alvo para o movimento ascendente é 153,70, que corresponde à linha superior das Bandas de Bollinger nesse mesmo período.